quinta-feira, 26 de abril de 2012

IMPUNIDADE, VIOLÊNCIA E O ASSASSINATO DO AMIGO DÉCIO SÁ!

Ainda sem condições de maiores reflexões, pois continuo com aquele sentimento, num misto de profunda tristeza, grande perplexidade, saudade, absoluta indignação, raiva, etc, pois conhecia o jornalista Décio Sá, polêmico e sempre combativo, nós concordávamos, discordávamos, brincávamos, discutíamos, etc. Enfim, era uma relação humana, cujo traço característico já vem de séculos, quando na revolução francesa tivemos a hegemonia da busca pelo respeito ao ser humano.

Tenho praticado o silêncio, pois se pudesse e tivesse outros espaços midiáticos para falar, ainda não teria condições de falar sobre a monstruosidade feita com o Décio sem usar palavras que não devemos falar nem mesmo quando estamos sozinhos.

A última vez que conversei, demoradamente com o amigo Décio Sá, foi no domingo (15/04/12) no SESC, onde se realizava a definição do candidato a prefeito de São Luis pelo PT, onde também encontrei vários jornalistas, dentre eles: Gilberto Léda, Professor Caio, entre outros.

Mas agora venho só lamentar as atuações da polícia referentes ao caso, pois têm sido “vazadas” informações sobre o autor covarde do triste assassinato, como seu roteiro de fuga, onde e como foi visto ao deixar cair um pente da pistola, etc.

Ora, isso só contribui para alertar os criminosos e, principalmente, o mandante, para “tomar as providências” de eliminar o autor do crime, que foi o único a ser visto e fonte chave para achar o maior de todos os covardes: o mandante do crime, que nem coragem para se dirigir ao jornalista ou apertar o gatilho teve!

O Décio foi e continuará sendo, dada sua inovação no jornalismo do Maranhão, uma diretriz jornalística, e, agora, na investigação de seu assassinato, vários destaques estão sendo feitos pelos mais diversos segmentos da imprensa, mostrando uma série de mazelas dos poderes públicos, as quais eu mesmo já tenho destacado em todos os espaços possíveis. Assim, algumas reflexões precisam ser aprofundadas, das quais farei apenas indagações:

1º) Como a Prefeitura de São Luis não possui monitoramento de câmeras em nenhum dos locais da cidade? Nem o Estado também?

2º) De que adianta aquelas carreatas de viaturas novas pela cidade, se a maioria dos inquéritos policiais dependem apenas da coragem e determinação dos delegados, que não possuem um apoio técnico-pericial digno?

3º) Seria “impossível” o Maranhão ter um setor técnico-pericial que analisasse as provas técnicas? (OBS: - lembro da perícia divulgada no caso dos Nardone em São Paulo!) Porque no Maranhão não temos? Lembro daquele caso do Prefeito Bertinho, que também foi assassinado e depois algemado na direção do veículo, não teve perícia no Maranhão que achasse um resquício de prova técnica? Como digitais ou outras? Até quando o principal meio de prova será a investigação pessoal dos delegados ouvindo testemunhas? Onde estão os meios científicos?

4º) O próprio Secretário de Segurança do Estado do Maranhão afirmou, em coletiva concedida à imprensa, que se fossem necessários outros meios de prova, pediria auxílio até mesmo ao FBI. Mas porque não temos esses meios técnicos no Maranhão? Esse auxílio seria só para o caso do Décio Sá? 


Décio Sá seria o primeiro a denunciar que não temos tais meios de obtenção de provas técnicas e que os mesmos só estariam sendo disponibilizados para um caso individual. O que me remete à publicação constante da página do Desembargador José Luiz Almeida (Leia), onde destacou que “A luta contra a impunidade não pode ser pontual”. Publicações que sempre leio e hoje me tenho como aluno constante do Dr. José Luiz. Dentro da reflexão do professor destaco: “O filme eu já conheço. Basta que um crime tenha repercussão, em face da expressão da vítima, e volta-se a falar de impunidade, sentimento que parece adormecido, quando as vítimas são pessoas não destacadas da comunidade. Mas é compreensível – e até bom – que assim o seja, para despertar, pelo menos eventualmente, esse sentimento que é, para mim, um dos mais relevantes estímulos à criminalidade, vez que, sentimento inverso, todos sabem, é fator de reconhecida inibição das ações criminosas. Mata-se todos os dias, assalta-se a toda hora, dilapidam-se o patrimônio público a olhos vistos, enriquece-se ilicitamente, mas não se vê nenhuma manifestação, de quem quer que seja, acerca desses crimes, cujas vítimas – parentes das vítimas e a sociedade como um todo -, descrentes, já não esboçam a mais mínima reação. [...] Vamos botar o “bloco” não! Vamos unir nossas forças! Vamos, juntos, combater a criminalidade! Vamos dar um basta nesse grave sensação de impunidade. Mas vamos fazer sempre, independentemente de quem tenha sido a vítima. Que se prenda e puna, sim, os assassinos de Décio Sá. Mas que se prenda e puna, também, os assassinos de José, de Pedro, de Manuel, de Maria e de João.”

Concordo com as reflexões, pois já vivemos sem o pleno direito de ir e vir! Ficamos em casa! Colocamos grades em nossas casas e etc! Tanto que a “indústria de segurança” cresce absurdamente, cumulando lucros vendendo cercas elétricas, sistemas de vigilância, entre outros.

Na internet você compra, a baixíssimo custo, os mais diversos tipos de câmeras, que se ligam do simples ao mais complexo computador, mas a Prefeitura de São Luis ou Estado do Maranhão “não têm condições” de comprar ou estruturar um sistema de monitoramento?

Mas, discordando do Professor José Luiz Almeida, entendo que o caso do Décio precisa sim de uma atenção especial, pois, em face da criminalidade crescente, já vivemos numa sociedade sem os direitos mais básicos do cidadão, mas a morte do jornalista, pelo que “falou/escreveu”, é o cúmulo do absurdo! O fim do Estado Democrático de Direito! O perecimento da Democracia, a falência do Estado, a queda da sociedade moderna, pois passaríamos ao absurdo de não poder sequer “falar”, assim teremos que ficar na clausura física e sem poder falar, seremos seres com razão, mas sem poder se comunicar.

Mas vejo que o Décio, mesmo após a sua morte, vai contribuir para com a sociedade maranhense, pois abre o precedente para que o sistema de segurança tenha mais preocupação com a qualificação técnica, científica e humana, valorizando os profissionais da polícia e dando aos mesmos melhores condições de trabalho, bem como, abre o início de uma geração de direitos, onde familiares de outras vítimas poderão exigir investigações mais científicas e com o Estado procurando o mesmo auxílio que agora, em face da atual falência de tais meios no Estado, estão disponíveis para o caso do Décio.

Um comentário:

  1. Brilhante texto,brilhante reivindicações e o que é mais difícil de entender na sociedade é que sabemos das soluções,mais vemos a olho nu ela escorrer em corrupção e desvio de verbas sem nada poder fazer,pois o sistema ta montado e os poderes de mãos atadas e atolados com empregos de favor... Lamentável mais essa é uma das faces do Brasil que vivemos!

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